Eterna Mouraria



Eu sonhei que o Fado era,
Uma canção tão pungente
Cantado por toda a gente,
Como o cantou a Severa!
Noutros tempos, noutra hera,
Em que as próprias “ cigarras,”
Cantavam canções bizarras,
Desde manhã ao sol-pôr
No cume do seu Amor,
Um palácio de Guitarras!

Um palácio, digo bem
Onde a raça Portuguesa,
Ligou o Fado à nobreza
Dotando, a Guitarra Mãe!
Sonhei que o Fado, porém,
A cada passo, morria
Sua voz se corfundia,
Nos Bairros desta Lisboa...
Nova hera do Malhoa,
Se eu pudesse, construia!

Sonhei também que o fadista,
Ao cantar o fado seu,
O Fado, que Deus lhe deu,
Se virara mais artista,
Na sua voz realista
Cantando ao som das guitarras,
Notara bem nas amarras,
Onde se prendera um dia,
Ao Bairro da Mouraria,
Com janelinhas bizarras!

Hoje onde o Fado nasceu,
Já ficou para o passado?
Já lá não canta o Fado?
Sua voz desapareceu?
Mas o Fado não morreu
Lá ficou a nostalgia,
De o Fado, voltar um dia,
Com “Severas e Cigarras"...
E com mais de mil Guitarras,
Viradas pera a Mouraria!

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