O Regressado
Eu venho do Tarrafal
Fui chamado à Liberdade!
Oh meu livre Portugal
Tantos anos de saudade!
Trago o meu peito a sangrar,
Sei que até pareço um "mono".
Não sei sorrir, não sei chorar,
Sofri torturas do sono!
O meu corpo é uma ferida,
Meu coração não cedeu!
Vivi para além da vida,
Na escuridão, sem ter céu!
Unhas... não trago nos dedos!
Minha língua, está cortada!
Por não desvendar segredos
A essa Pide malvada!
Por vezes não sinto as pernas...
Outrora, sempre despidas!
P´las águas das cisternas,
Banhadas, amolecidas!
Foi-se o frio... deixei a fome!
As torturas já lá vão.
Cheguei a esquecer meu nome,
Do Mundo perdi a noção!
Já não sinto sofrimentos,
Quer de noite, quer de dia...
Foram-se embora os lamentos,
Voltou pra mim a alegria!
E a paz que trago comigo
Dá-me tal satisfação...
Que em todos vejo um amigo,
Que em todos vejo em irmão!
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